Multimídia & Produção Textual: Crônica – Há certos dias

Esses dias ando praticando diversas modalidades de textos. Resolvi variar e sair um pouco de tudo que já tinha experimentado. Espero que gostem. AH, sim, o texto a seguir, tá meio fora dos padrões propositalmente. Faz parte do contexto do meu objetivo com esse texto, então não se assustem com os ‘errinhos’, pois faz parte da coisa toda. rsrsrs

Há certos dias…

Não quer aperto, fuja dos ônibus de Belém do Pará.

No caso de extrema necessidade em épocas de vacas magras se não tiver como evitar, coloque a frescura no bolso, erga a cabeça e finja que está tudo beleza, tudo legal, tudo muito bacana.

Entrei no ônibus do Guamá, numa manhã de clima super agradável. Fazia 37ºC às sete horas da manhã. Eu estava estressada, o ônibus estava tão cheio que não tinha mais domínio sobre o meu corpo. Tanto esfrega, esfrega, empurrões, e apertos que, as vezes, o simples fato de respirar era complicado e arriscado de se fazer, pois se alguém, por acaso me interpretasse mal, eu tinha grandes chances de levar, no mínimo um grande soco na cara, ou mesmo uma cotovelada na costela.

A cada curva do ônibus era a hora de o motorista demonstrar a quantas anda o seu ótimo humor matinal. Eu me sentia como se estivesse dentro de uma lata de sardinha, e o pior, sem chance de encontrar um abridor de latas! A situação era realmente crítica. Quando eu penso que a situação não poderia ficar pior, me chega um moçoilo de características suspeitas, com as ditas mechas loiras no topete, trajando uma blusa que imitava o símbolo da Nike, uma bermuda florida, um boné branco encardido e colar de corrente, mais parecido com correntes de bicicleta. Bandido não tem cara, mas toda vez que a gente vê um camarada desses, bate logo a neura, principalmente se tu já experimentastes a sensação de, como os malacos costumam dizer “perdeu, mano”. Então, eu que não tinha como fazer nada naquele momento, pois estava exposta ali naquela situação, sem poder me defender e temendo perder os meus R$5 do ônibus e da merenda na faculdade. Foi aí que tive a brilhante ideia de me contorcer e colocar os cinco contos dentro do meu tênis, e depois pude relaxar um pouco, se é que se pode relaxar estando na filial do inferno. Me faltavam palavras pra expressar o quanto aquela situação estava me incomodando e aquela confusão me deixava atordoada. A essas alturas, eu que tinha saído linda, toda maquiada e perfumada, estava super suada, com um doce e agradável odor digno, de trabalhadora braçal. Na minha cabeça começava a rodar o filme, era a crise de coitadice, comecei a me sentir humilhada, envergonhada, suja, inclusive tendo pensamentos maldosos com relação a rapazes bem talhados que estavam próximos a mim. Meus pobres pezinhos estavam a ponto de suplicar , POR FAVOR, ME TIRE DESSE INFERNO, ME AMPUTE!

Em um certo momento, entre pensamentos ruins e maldosos, me vieram na mente diversas reflexões e questionamentos, alguns idiotas mesmo e outros nem tanto. Ao mesmo tempo em que me perguntava qual o sentido de uma pessoa se banhar do odor genérico do Channel Nº5 àquela hora da manhã, eu ficava imaginando como seria a vida daquelas pessoas que estavam ali junto a mim, unidos entre corpos, e cores, uns arrumados, uns não tão arrumados e criticamente os que não são acostumados a fazer as devidas higienes corporais. Já eram quase oito da matina e nada de chegar na faculdade, estava sentindo que depois de passar por um verdadeiro corredor russo, ainda iria levar um esporro de responsa da super agradável Professora de Latim e, por consequência, eu perderia os três pontos que me faltariam para passar com conceito regular.

Há coisas que não se pode fugir em um dia de ônibus lotado, calor e atraso: Os vendedores ambulantes dos coletivos, que vem com aquele velho papinho que você provavelmente sabe de cor, “Eu poderia estar roubando, matando, mas estou aqui lhe oferecendo cinco balinhas pelo valor de R$0,10 cada”, e comprando cinco balinhas por R$0,50 você ganha a possibilidade de ser acometido pelas temidas cáries e leva inteiramente de grátis um efusivo desejo de que você TENHA UM ÓTIMO DIA. Caso você não compre, se benza, pois eles rogam até praga.

Finalmente, o ônibus parece chegar até a Avenida Almirante Barroso, são exatamente 8h05 e você quer se convencer de que nesse mesmo dia, você passará apenas dez minutos diante de um engarrafamento no sentido da José Malcher,. Me iludi completamente e me enganei.

Depois de muito barulho e motoristas estressados, conseguimos passar da Yamada Plaza e eu já respirava aliviada, afinal, aquilo tudo estava prestes a acabar. Tudo começava a melhorar, o trânsito fluía bem, muito bem por sinal. Eu só pensava em desembarcar e tentar esquecer tudo.

Até que chega a minha hora de dar adeus àquele tormento, chegava o fim da minha odisséia, rumo à faculdade. Creio que nunca desci de um ônibus com tanta felicidade e satifação, um sorriso invadiu o meu rosto, não tive como evíta-lo mesmo na presença da queridíssima magister de Latim.

No fim do dia, voltando pra casa, desta vez, não podia conter a felicidade de experimentar o oposto do que vivi de manhã. Fui sentada e tive a grande sorte de desta vez pegar um ônibus semi-vazio.

Chegando em casa, comecei a relembrar a experiência de logo cedo e me veio na mente os rostos de algumas pessoas que muito maltrataram meus pes, pisoteando-os. Confesso, que alcei planos de vingança, mas esses desejos logo caíram por terra, certo que era um misto de sentimentos que ia do ódio mortal e pena, mas logo mudei de posição quando fui tomada por lembranças dos rostos daqueles bravos guerreiros que levantam cedo para ganhar a vida e hoje, digo que esta experiência acrescentou muito na minha vida e me tocou profundamente, pois pude dar valor a coisas simples da vida e essenciais na vida, como coca-colas beeem geladas e ar condicionado!

Publicado por:

Myrian Conor

Paraense, Relações públicas, acredita que nasceu para exercer essa profissão. Já trabalhou como Analista de Mídias Sociais em campanhas promocionais e políticas, cobertura de eventos como curadora e produtora de conteúdo. É entusiasta em cibercultura,linguística, blogmaníaca, fã de Pedro almodovar e amante de tudo que é digital.

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4 comentários sobre “Multimídia & Produção Textual: Crônica – Há certos dias”

  1. Ubuntu, Myla!
    Não é muito diferente de alguns ônibus aqui do RJ que ligam a Zona Oeste ao Centro… Moro na Zona Norte, o ônibus que pego pro trabalho vem relativamente cheio, mas sempre sobra um lugarzinho… Mas não paro de pensar naquele trabalhador ou estudante que tem que se espremer todo num daqueles ônibus da Z. Oeste, que estão em estado lamentável e nem a tão falada “padronização de cores” está dando jeito. Tenho alguns colegas que passam por esse perrengue… E não deve ser agradável!
    Pra dizer a verdade, é algo que acontece em toda grande cidade (exceto Porto Alegre, não vi UM ônibus cheio durante minha estada por lá).
    Adorei teu texto. Saúde e paz!!! =)

  2. Boa tarde, sem fazer troça com seu “perrengue” acho que é quase uma unanimidade no Brasil sofrer em coletivos cheios, coisa que seria resolvida se as secretárias de trânsito fiscalizassem alguma coisa, veja que no nosso caso aqui no RJ ainda temos ônibus velhos caindo aos pedaços literalmente, intervalos tão longos que dá até para vc fazer a jornada a pé, aqui onde moro eu tenho que pegar um ônibus, que demora tanto a passar, que eu faço todo o trajeto a pé antes que passe algum.

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